22 de julho de 2013

Atemporalidade

A paixão é louca e obscena. Dos piores critérios, das maiores malícias faz um cenário de existência entre o mórbido-dramático ao altivo-efusivo. São as mazelas antagônicas, paradoxos e antíteses em um mesmo período. Faz o autor perder a razão, esvair-se de sentidos, largar objetivos e cega. Até promove tempos verbais para além do hoje e justifica os pretéritos sofridos como algo enaltecedor das dores presentes. Que loucura não seria a paixão? Vê-la em seu despertar é quase pintar um alvorecer nostálgico. Semelhante a alegria infame de uma criança e um presente de natal. É baseada no consumo viciante do outro como única forma de se atingir plenitude. É calmante quando se espalha pelas colchas e fulminante quando desliza entre dúvidas. Chega a lembrar que o espírito também cria calos. Como uma velha senhora solitária que escolheu o pra sempre, e ‘príncipes’ e ‘sempre’ nunca chegam. Em síntese, um dos melhores sentimentos. Dúbio, dual, permissivo, libertador, incoerente e lascivo. Está entre o ter e o não ser, porque nos ausentamos, pomos nosso espírito para morar do lado de fora e nos preenchemos de loucura. E assim nos perdemos. E quando ela se vai, só existem duas coisas que podem acontecer: ou estaremos entregues ao amor, ou levará bastante tempo pra que o espírito volte a se acomodar num corpo que nem lhe cabe mais.

14 de junho de 2011

o fim do breve.

eu acreditei. eu imaginava o sempre como possibilidade, e talvez como maneira de fugir de um agora que sufoca. me prendi ao passado como forma de resistir silenciosamente ao hoje. meu espírito está preso. liberdade apenas nos momentos de devaneio quando imagino um dia por vir. mas hoje, por mais inacreditável que seja datar sentimentos, percebi porque seria breve, porque seria essa, a história de amor. foi, esvaiu-se. transformou-se em algo que não acredito mais. pus fim em algo que me alicerçava. de hoje ao longe, não vejo mais possibilidade. serei eu e minha tranquilidade, que mesmo preso, ainda busco como forma de continuar respeitando o universo. controlar os sentimentos, sem medo de senti-los, evita que machuquemos pessoas futuras, que nos envelopemos com desculpas de um sofrimento passado. eu não. aprendi com os amores a opção de deixar ir. e eu fico. porque a tranquilidade é consequência da verdade, e verdade não transforma nada em breve, o contrário, faz a necessidade do pra sempre ser realidade. e isto é o mais próximo de uma "breve história de amor".

20 de maio de 2011

vipassana

as vezes esquecemos de completar as coisas. momentos que queremos abraçar mais que a necessidade ou a capacidade. esquecemos de olhar as essenciais. perdemos tanto buscando a melhor escolha. e o mundo cíclico nos coloca em injúrias pelo passado. mas passou?! nem sempre passa. por algum momento é possível ainda querer momentos tão simples de algo que se viveu, que é possível acreditar que só a lembrança já é doce por si só. imagino sempre mais do futuro, mas por enquanto o presente me mostra que no passado a minha maneira de desejar mais para este presente que um dia foi futuro estava equivocada. aprendi vários conceitos que achava ter, mas que na realidade era uma imaginação de mim mesmo.hoje não tenho, nem metade do que gostaria, nem metade. é entre sombras e relapsos de sol que percebi, meio em câmera lenta, o quanto perdemos e deixamos passar. e pensando sobre, já está passando.quanto tempo mais perderemos então? será que abandonar, abdicar, ou ceder são atos tão difíceis? o mais difícil não seria construir uma crosta diária de empecilhos para que cheguem mais próximos de nós? somos um caminho sem volta. ou só estamos dando voltas... ...precisamos saber apenas ao redor do que.
ps: eu, tomara que não seja de mim mesmo.

3 de maio de 2011

gastrofilosófico.

o ato de ingerir, trazer pra dentro de si algo que se quebrará e se transformará em você. da animalidade à elegância muito se trançou em busca de sabores ou de um sensorial rebuscado. onde estão os juízes de palatos discriminativos que denominam alimentos e criam cultura de melhorias? tornar tragável é ritmia, tornar saboroso é consequência de uma ciência aplicada. transformar em uma experiência inesquecível é fruto de uma alquimia que vai além das temperaturas e dos pudores sociais. estamos no rumo do diferente... e talvez comamos com as mãos novamente acessando um incosnciente coletivo, uma animalidade tanto repudiada; e assim se torne lúdico a miséria do talher, a falta do instrumento e a cópia de uma cultura que foi sustentada pela miséria. fazemos então gastronomia, ou selecionamos requinte improvável à quem não tem eira. alimentar-se. difícil se é porque não temos foco neste objetivo. queremos ludibriar os olhos sem favorecer o corpo, mesmo com a tentativa de equilíbrio. abrimos mercados, e fechamos nossos olhos pro pior do alimento, sua falta. o que realmente alimentamos com a alta gastronomia, claro que nem todos, são os nossos egos que sempre estão sedentos pela aprovação que cheia de critérios, muitas vezes não respeita o mais simples de nossos costumes. então globalizemos os sabores! façamos o feijão com arroz prato principal na mesa de qualquer nação! ou pelo menos, façamos o simples... aprendamos que alimentar-se é muito mais que favorecer os olhos. entendamos que respeito devemos ao ser humano, com dedicação ao alimento, mas não o transformando no foco de nossa jornada. alimentamos gente. e o alimento é nossa ferramenta, não os utensílios convencionais. porque através do alimento conquistamos gente, alimentamos pessoas, e confortamos algumas almas que necessitam de um pouco mais no ato de comer. e, por si só, desta forma a cozinha se transformará em um imenso laboratório espiritual.

14 de fevereiro de 2011

deixa ir...

pensei várias noites no porquê de ir. e vi que se trata de um movimento natural que se desenha quando traçamos escolhas. as pessoas vão... ...e neste movimento percebe-se energias que se esvaem, que deixam de colaborar entre si. e reencontrar é melhor que voltar a ver. faz-se um pouco mais viva a essência de poder trocar um pouco de si por algo maior. não temos necessidade real do outro. precisamos do "não estar só", e escolhemos ou nos escolhem. e vamos, por vezes sem perceber, cultivando algo que se faz necessário por desespero. que nem escolhemos e nem escolheram. e a realidade é trançada com fios de ilusão. e esperamos... ...que é aquilo que mais fazemos. enquanto buscamos o que não existe em forma de realidade. Ir? deixa...

4 de janeiro de 2011

"tudo desculpa, tudo crê, espera e suporta."

somos apenas uma necessidade. um viés distante de humanidade. estou querendo entender errado, ou é fato? caracteres que não fazem sentido algum. a proximidade fingida de uma tela que me parece solitária, sem realidade alguma. ou será que me apego a pele e olho no olho. será que pessoas sentem saudades, nem que seja apenas do necessário? ou sou humano demais pra ter necessidade de pessoas. será que tornaram-se onerosos demais os encontros, ou é possível realmente suprir o outro com "status" e o que estão pensando naquele momento. será que virtualizaram algo que não acompanhei? às vezes sinto falta de olhares e não de uma lista que não desvirtualiza uma necessidade de gente. e vamos ficando mais distantes, ou ao mesmo tempo mais próximos de sentir através de outras sonoridades e cores menos interessantes. estou falando pela ponta dos dedos e congelado em códigos. sei de muitos, mas não sei nada de tantos. estamos reduzindo; as conversas, os encontros, as trocas, a sinceridade, o amor e o cuidado. agora preciso ter um perfil, estar on-line, me contentar com fibra óptica e megabytes. não posso nem ser inconstância, me resumo numa forma mais simples de "quem sou eu". e acreditem ou não, estamos à venda por um preço insignificante daquilo que queremos parecer ser. sou perfil, sonoro e movimento. talvez menos humano, mas me adicione a sua lista de frivolidades práticas e me exclua dos momentos menos interessantes. acredito que quando mudamos o pensamento criamos movimentos que refletem o que necessitamos. só neste universo não é tão simples formar carreatas onde nos damos as mãos, onde temos certeza da crença em um ideal porque não tocamos ninguém. então quando criarmos algo parecido com estes movimentos dentro da surrealidade, estaremos pontuando a loucura. estaremos condenando a caridade a virtualização da miséria humana. bolemos campanhas então! não estamos tão distantes assim...

11 de novembro de 2010

infames

mesmo que infantil acreditar em promessas, infames todas são. desconstruir-se é um modelo de ser incrivelmente inconstante. é necessário por vezes entender que nada mudará sem colaboração de um destino autodidata, das coincidências performáticas e dos acasos infames. que família interessante a que comanda nossos vieses. há tempos não tracejava linhas sobre futuro. permiti que o presente se fizesse entendido, e claro, esperado em qualquer texto, que o passado nem apareça. e então vivemos de metade, de fim, sem meios para se chegar onde nem se procura chegar. há, sei que existe, algo que chama cada um à um penhasco pessoal. não para que nos joguemos, mas que vejamos uma paisagem de nossas realidades. que percebamos o que existe de horizonte e que se, em alguma hipótese quisermos, existe ainda um penhasco logo a frente. se souber voar tente. se tens medo, então apenas aprecie a paisagem. mesmo que lúdica, metade de você está alí. a outra, se reserva a observá-la.