22 de julho de 2013

Atemporalidade

A paixão é louca e obscena. Dos piores critérios, das maiores malícias faz um cenário de existência entre o mórbido-dramático ao altivo-efusivo. São as mazelas antagônicas, paradoxos e antíteses em um mesmo período. Faz o autor perder a razão, esvair-se de sentidos, largar objetivos e cega. Até promove tempos verbais para além do hoje e justifica os pretéritos sofridos como algo enaltecedor das dores presentes. Que loucura não seria a paixão? Vê-la em seu despertar é quase pintar um alvorecer nostálgico. Semelhante a alegria infame de uma criança e um presente de natal. É baseada no consumo viciante do outro como única forma de se atingir plenitude. É calmante quando se espalha pelas colchas e fulminante quando desliza entre dúvidas. Chega a lembrar que o espírito também cria calos. Como uma velha senhora solitária que escolheu o pra sempre, e ‘príncipes’ e ‘sempre’ nunca chegam. Em síntese, um dos melhores sentimentos. Dúbio, dual, permissivo, libertador, incoerente e lascivo. Está entre o ter e o não ser, porque nos ausentamos, pomos nosso espírito para morar do lado de fora e nos preenchemos de loucura. E assim nos perdemos. E quando ela se vai, só existem duas coisas que podem acontecer: ou estaremos entregues ao amor, ou levará bastante tempo pra que o espírito volte a se acomodar num corpo que nem lhe cabe mais.